Filme de Gitai reforça papel de radicais no conflito Israel-Palestina

INÁCIO ARAÚJO – Tanta coisa tem acontecido que por vezes esquecemos do conflito Israel-Palestina no Oriente Médio. Existe a Síria, os refugiados, o Exército Islâmico, Trump, Coreia do Norte. No entanto, eis do que nos lembra “A Oeste do Rio Jordão”, o novo filme de Amos Gitai: o conflito está lá. Inteiro.
Há dois Amos Gitai: em “Rabin, the Last Day” (2015), o jovem que em 1994 entrevista o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, e o senhor já idoso que, nos dias atuais, percorre Israel e Palestina em busca de produzir uma ideia do que seja o conflito entre os dois povos e as possibilidades de paz.
Gitai é desde sempre um pacifista, sabe-se. O ponto central de suas ideias é que existe uma forte coalizão entre extremistas de um lado e outro para que a paz não aconteça, pois tiram vantagem da situação de conflito.
Rabin, para quem não lembra, é o líder que iniciou um processo de paz com os palestinos antes de ser assassinado por um terrorista da extrema-direita israelense.
Foi certa vez interpelado por um adversário da paz que o acusava de “fazer a paz com nossos inimigos”. Respondeu: “Com quem mais eu poderia fazer a paz? Com nossos amigos?” Sabia ser inteligente com humor.
A reflexão de Gitai, ao longo das viagens e entrevistas que faz, não mudou nesses pouco mais de 20 anos: existe uma coalizão entre os extremistas de ambos os lados para que a paz não aconteça. São os que tiram proveito da guerra.O ponto que torna Rabin tão importante em seu documentário: não é um homem que tenha sido desde sempre um pacifista, longe disso. É alguém que compreendeu, ao longo do tempo, a impossibilidade de viver numa situação bélica permanente.
Gitai vai aos territórios ocupados para saber o que pensam as pessoas, como vêem a ocupação dos territórios. Vai a diversas ONGs, uma de ex-soldados dispostos a levantar o véu sobre o que passaram na condição de ocupantes. Outra, de mulheres de um lado e de outro que perderam os filhos nos combates.
A melhor entrevista é a de Amos com um menino palestino cujo sonho de vida é morrer como mártir. A pior, com uma ministra israelense que, simplesmente, nega-se a ouvir qualquer outro ponto de vista, nega-se até mesmo a ser perguntada. Por isso é a pior: trata-se de uma não entrevista.
Uma das virtudes essenciais do filme será, sem dúvida, nos lembrar de que, embora tenha perdido seu lugar midiático, esse ainda é o pai de todos os conflitos. E está bem vivo.
A outra é trazer a nós, novamente, as imagens de Gitai. Primeiro as de sua pessoa: hoje um senhor quase idoso, já não tão ágil como em 1994, ainda que dotado de convicção para continuar a usar o cinema como forma de abrir e expandir o diálogo entre os dois povos. Segundo, a imagem do cineasta nascido israelense hoje já um pouco fatigado desse conflito sem fim.
Por fim, as imagens que produz: mostrando as paisagens ou numa simples entrevista basta bater os olhos na tela para sabermos que atrás da câmera (e às vezes diante dela) existe um talento invulgar.
Com informações da Folhapress

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